domingo, 28 de fevereiro de 2010

irmão, onde andas?

andei numa vida mais ou menos agitada por aqui, com visitas, vidas fora de casa, trabalho e outros que tais.
mas (há sempre um mas!), está tudo bem! não tive muito tempo para escrever, e agora há muita escrita para pôr em dia.
de forma mais ou menos resumida, foi isto que aconteceu nas duas últimas semanas:
- passei uns dias num hotel, porque para conhecer bem um povo, há que ir para o meio do povo.
- a minha namorada veio passar 10 (maravilhosos, bah oui), dias a Argel.
- cortei o cabelo. muito!
- andei numas passeatas por Argel e arredores (pequenas road trips, restaurantes novos, sítios novos, sítios do costume, concertos e cinemas).


Fotos e textos muito bem escritos (claro!), assim que tenha tempo e vontade.

#argélia 55



impressões #13

- passei a última semana a ouvir o que me pareciam ser bombinhas de Carnaval a rebentar, durante o dia, sem razão aparente. o Carnaval em Portugal já tinha passado, mas pensei que eventualmente aqui por estas bandas se festejasse fora do tempo a que estou acostumado. afinal não. os estalidos sempre eram de bombinhas de Carnaval (e derivados), mas a razão era outra: o nascimento do profeta. é uma altura de comemoração em que as famílias se reunem (isto não faz lembrar qualquer coisa?), e pelo vistos, na rua rebentam-se bombinhas (em vez da troca de presentes debaixo da árvore).
- num sítio onde as vontades andam muito contidas, porque o Corão diz que isto, e que aquilo, e não se pode fazer porque o Corão diz que não se pode fazer, quando aparece alguma coisa que o Corão deixa fazer, faz-se, e à grande! na noite desta celebração do profeta, numa rotunda perto da minha casa, andavam dois grupos de jovens (inconscientes?), numa verdadeira batalha campal. uns de um lado, outros do outro, acendiam as bombinhas e era vê-los mandar e receber com "petardos" em cima. e os carros a passar no meio. às vezes até tinham que parar para deixarem as crianças brincar "em segurança"...
- os molhos são uma parte essencial na cozinha argelina. maionese, mostarda, molho de tomate, molho disto e molho daquilo. é uma parte tão essencial que já vi pessoas (mais do que uma, atenção!), que pedem uma piza, e depois besuntam a piza com maionese antes de a comerem. como se piza não tivesse já molhenga suficiente.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

impressões #12

- que eu ando aqui a dar nas vistas não é novidade. mas é sempre "divertido" escutar uma e outra história da admiração que causo a este povo. um colega do inov, que trabalha num sítio diferente do meu, tem um colega de trabalho que acha que eu sou um terrorista. conversa entre o J., e o colega dele, enquanto o J. estava a ver umas fotos no facebook.
Rapaz Argelino -é pá, esse gajo é um terrorista!
J. -não é nada! este gajo é português!
R.A. -tá bem, mas é um português terrorista!
J. -como é que é terrorista? o gajo é meu amigo, pá!
R.A. -tá bem. mas é o teu amigo terrorista...!
J. -não é nada, meu! terrorista...olha que tu...
depois disto, fez um comentário numa fotografia onde disse para terem cuidado comigo, que sou um terrorista perigoso. alguém disse que não, e ele dá-lhe assim "então não se vê logo pela barba e pelo cabelo que é terrorista?!?"
enfim...
- há coisas engraçadas que acontecem por aqui, nomeadamente com o trânsito. num sítio onde o tráfego automóvel é uma coisa caótica, (aparentemente) sem regras e num regime de anarquia, há pormenores como: há ruas (normalmente de sentido único), onde se estaciona do lado esquerdo, numa semana, e do lado direito, na semana seguinte (ainda não percebi porquê); há ruas (as mais movimentadas), onde não há há estacionamento durante o dia, mas durante a noite já há; há ruas onde, segundo ordens da polícia, as faixas podem mudar de sentido em função de resolver um congestionamento automóvel.
mas, num país onde se cometem as atrocidades automobilísticas mais inacreditáveis, também há casos como o que aconteceu ao J., há dias: estacionou 1 minuto para nos apanhar, ao pé do escritório, param logo dois polícias de mota, pedem a carta, e já lhe queriam confiscar a carta, etc etc etc. valeu-nos a boa lábia tuga para dar a volta à situação!

argélia #42



segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

argélia #35


impressões #11

- viagem de autocarro escritório-casa (Didouche Mourad-El-Biar): 15 dinares (+- 15 cêntimos).
- as viagens de autocarro funcionam mais ou menos como os nossos comboios. o autocarro chega, e as pessoas entram. depois o revisor vai vender os bilhetes, lugar por lugar. conversa com o revisor, quando me vendeu o bilhete:
- desculpe, monsieur, como é que sei que estou a chegar à zona onde quero sair?
- onde é que quer sair?
- perto da praça kennedy.
- ah, pàs de problème, é a paragem antes da última.
- mas eu não faço ideia qual é que a última, como é que vou saber qual é a anterior?!?
e a seguir o senhor foi-se embora a rir-se, muito calmamente.
mas no fim de contas demos com a paragem antes da última sem problema!
- a sexta feira aqui equivale ao domingo de portugal. é quando vai toda a gente à mesquita. já me tinham dito, mas ainda não visto, que a celebração, aqui, é transmitida para o exterior, pelos megafones. sempre que há oração, ouve-se a chamada no megafone, mas nunca tinha assistido a uma celebração. até há uns dias atrás, em que fomos à procura de um restaurante perto de casa para almoçar. fomos até à zona da mesquita, que tem um largo mesmo em frente. o largo estava cheio de pessoas sentadas nos bancos, curvadas e com a cabeça apoiadas nas mãos, a ouvir a celebração. as próprias ruas ali à volta tinham pessoas sentadas nas soleiras das portas, em puro estado de meditação (digo eu...). senti-me ali um bocadinho a mais. como se estivesse a passear pelo local de culto propriamente dito, que se deve respeitar, etc etc, e não como se estivesse a passear na rua.
- há dias fomos experimentar a segunda discoteca mais concorrida de Argel (ou a primeira, conforme o ponto de vista). e em termos de espaços nocturnos temos as visitas feitas: Le triangle e Pacha. o pacha é um sítio completamente diferente do triângulo. não direi melhor nem pior, mas sim diferente. tem mais classe, é verdade, as pessoas que por lá andam transbordam um bocadinho mais de magia do que as do triângulo, mas ainda assim, tive um episódio que não esperava, num sítio com nível.
por norma, não se pode fumar nem ter copos ou garrafas na mão, no meio da pista. é uma boa ideia! diminui o risco de alguém queimar outro alguém com um cigarro, de alguém entornar bebida para cima de outro alguém sem querer. mas quando queremos dançar aquela música que está a dar e temos uma garrafa na mão, é uma porra, porque a música não espera! de qualquer forma, há uma espécie de parapeito ao lado da pista, onde dá para pôr os copos ou as garrafas. às tantas, estava eu a dançar a tal música que não espera (sempre de olho posto na minha garrafa, porque uma cerveja no pacha, o.33cl, é coisa para custar 600 dinares (+- 6 euros), bah oui), e vejo um espertalhão a aproximar-se da garrafa de costas, lentamente, e com as mãos atrás das costas. enfim, o resto do filme imagina-se. fiquei parado a olhar para ele, até que ele reparou que estava a ser filmado, e diz-me então:
- ah, desculpa, a garrafa é tua?
- é pá, não sei...deve ser tua, não? como estás com ela na mão...
- pois, não sei, eu tinha aqui a minha garrafa, mas esta pode ser a tua.
- pois pode. mas vê lá, já tás com ela na mão, e eu não tenho nenhuma na minha, se calhar será mesmo tua.
- talvez não, que lembrei-me agora que já bebi a minha.
- então vê la não bebas mais, que isso anda a afectar-te a memória.
(a parte final da memória foi um acrescento. não cheguei a dizer-lho, porque o chico-esperto foi-se embora, mas já estava na ponta da língua xD )
- nesta mesma noite, quando estava a sair da casa de banho, um argelino simpático disse-me que eu talvez precisasse de um corte de cabelo. não sei quem é que pediu ao gajo dos dentes pretos e brilhantina no cabelo para se armar em consultor de cabeleireiro dos meus cabelos, mas...agradeci a dica e segui à minha vida.
- como se não bastasse este episódio, e a ideia que eu já tinha de que toda a gente se mete com a minha trunfa, no dia a seguir ao pacha, ia com os meus compinchas, a pé, a um restaurante aqui ao lado para almoçarmos, passa um carro por nós, começa a apitar e a apontar para nós. no meio dos grunhidos que o animal soltou, percebi "cheveux". "pronto, já é comigo outra vez..."., pensei. e era! tanto que era, que o menino travou, meteu marcha-atrás até nós, e continuou o cinema "mas que cabelo é esse, meu? mas isso é que é cabelo?" tira o boné, em jeito de exibição da cabeça careca, e continua "olha pra mim, assim é que é! mas que raio de cabelo é esse?" e pronto, como não tínhamos amendoins para lhe dar, o rapaz seguiu à vida dele. é este tipo de situações que me faz pensar que ainda há MUITO trabalho a fazer na Argélia.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

jantar (no) tradicional

este fim de semana decidimos ir experimentar um restaurante do qual já nos tinham falado (bastante bem, até!).

combinámos com os nossos amigos portugueses, e lá fomos todos - o quinteto e a malta do metro.

o restaurante tem um nome árabe, que tem que ver com "tenda" e "sul", e tenta recriar o ambiente das tendas do sul da Argélia. nós, para faciilitar, chamamos àquela espaço "o tradicional".

tem todos os pratos típicos daqueles lados, e mais alguns. entradas deliciosas, um cházinho que é uma maravilha, e é relativamente barato (quando digo relativamente barato, neste tipo de restaurantes , que não são os restaurantes "normais" de rua, quero dizer que o preço médio por pessoa anda entre os 20/30 euros).

o quarteto vira quinteto

já aconteceu há uns dias, mas mais vale tarde que nunca! (este é o meu grande lema!).

e, de repente, o quarteto fantástico vira quinteto maravilha, com a chegada do nosso amigo Giovanni, o italiano a trabalhar na embaixada de Portugal!

argélia #34

argélia #33

argélia #32

argélia #31

argélia #30



argélia #29

argélia #28








mais uma pérola que não é da minha autoria, mas que é imperdível neste espaço! obrigado à tal máquina que está sempre à mão!

argélia #27









nota: a autoria desta pérola não é minha. mas é um apontamento demasiado bom para não o incluir neste retrato "diário" da vida em Argel. agradeço ao nuno a mão rápida e a máquina pronto, neste dia!

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

o canto lírico

há dias, mais um "invento" cultural no Centro Cultural Francês.

desta vez, o site do CCF dizia que a soirée seria preenchida com sons de canto lírico, acompanhados por guitarra clássica. como os eventos por cá não são propriamente abundantes, decidimos arriscar no cântico lírico, mais que não fosse pela novidade e pela curiosidade. a meio da tarde uns amigos nossos fizeram o favor de perguntar , no CCF, a partir de que horas se podiam comprar os bilhetes para o espectáculo, e quanto custavam. resposta: não é preciso bilhete, o espectáculo é de entrada livre! olha que mel! vamos lá embora ver esse canto lírico! =D

do canto lírico propriamente dito, enfim...gostei de ir conhecer o género (sobretudo por ser à borla. este tipo de iniciativas faz-me acreditar que há esperança para a Humanidade! eheh), e gostei sobretudo dos intervalos em que o senhor da guitarra ficava sozinho a praticar a arte dele! e o senhor dedilhava que se fartava!

deixo aqui um cheirinho da soirée de canto lírico.