segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

impressões #11

- viagem de autocarro escritório-casa (Didouche Mourad-El-Biar): 15 dinares (+- 15 cêntimos).
- as viagens de autocarro funcionam mais ou menos como os nossos comboios. o autocarro chega, e as pessoas entram. depois o revisor vai vender os bilhetes, lugar por lugar. conversa com o revisor, quando me vendeu o bilhete:
- desculpe, monsieur, como é que sei que estou a chegar à zona onde quero sair?
- onde é que quer sair?
- perto da praça kennedy.
- ah, pàs de problème, é a paragem antes da última.
- mas eu não faço ideia qual é que a última, como é que vou saber qual é a anterior?!?
e a seguir o senhor foi-se embora a rir-se, muito calmamente.
mas no fim de contas demos com a paragem antes da última sem problema!
- a sexta feira aqui equivale ao domingo de portugal. é quando vai toda a gente à mesquita. já me tinham dito, mas ainda não visto, que a celebração, aqui, é transmitida para o exterior, pelos megafones. sempre que há oração, ouve-se a chamada no megafone, mas nunca tinha assistido a uma celebração. até há uns dias atrás, em que fomos à procura de um restaurante perto de casa para almoçar. fomos até à zona da mesquita, que tem um largo mesmo em frente. o largo estava cheio de pessoas sentadas nos bancos, curvadas e com a cabeça apoiadas nas mãos, a ouvir a celebração. as próprias ruas ali à volta tinham pessoas sentadas nas soleiras das portas, em puro estado de meditação (digo eu...). senti-me ali um bocadinho a mais. como se estivesse a passear pelo local de culto propriamente dito, que se deve respeitar, etc etc, e não como se estivesse a passear na rua.
- há dias fomos experimentar a segunda discoteca mais concorrida de Argel (ou a primeira, conforme o ponto de vista). e em termos de espaços nocturnos temos as visitas feitas: Le triangle e Pacha. o pacha é um sítio completamente diferente do triângulo. não direi melhor nem pior, mas sim diferente. tem mais classe, é verdade, as pessoas que por lá andam transbordam um bocadinho mais de magia do que as do triângulo, mas ainda assim, tive um episódio que não esperava, num sítio com nível.
por norma, não se pode fumar nem ter copos ou garrafas na mão, no meio da pista. é uma boa ideia! diminui o risco de alguém queimar outro alguém com um cigarro, de alguém entornar bebida para cima de outro alguém sem querer. mas quando queremos dançar aquela música que está a dar e temos uma garrafa na mão, é uma porra, porque a música não espera! de qualquer forma, há uma espécie de parapeito ao lado da pista, onde dá para pôr os copos ou as garrafas. às tantas, estava eu a dançar a tal música que não espera (sempre de olho posto na minha garrafa, porque uma cerveja no pacha, o.33cl, é coisa para custar 600 dinares (+- 6 euros), bah oui), e vejo um espertalhão a aproximar-se da garrafa de costas, lentamente, e com as mãos atrás das costas. enfim, o resto do filme imagina-se. fiquei parado a olhar para ele, até que ele reparou que estava a ser filmado, e diz-me então:
- ah, desculpa, a garrafa é tua?
- é pá, não sei...deve ser tua, não? como estás com ela na mão...
- pois, não sei, eu tinha aqui a minha garrafa, mas esta pode ser a tua.
- pois pode. mas vê lá, já tás com ela na mão, e eu não tenho nenhuma na minha, se calhar será mesmo tua.
- talvez não, que lembrei-me agora que já bebi a minha.
- então vê la não bebas mais, que isso anda a afectar-te a memória.
(a parte final da memória foi um acrescento. não cheguei a dizer-lho, porque o chico-esperto foi-se embora, mas já estava na ponta da língua xD )
- nesta mesma noite, quando estava a sair da casa de banho, um argelino simpático disse-me que eu talvez precisasse de um corte de cabelo. não sei quem é que pediu ao gajo dos dentes pretos e brilhantina no cabelo para se armar em consultor de cabeleireiro dos meus cabelos, mas...agradeci a dica e segui à minha vida.
- como se não bastasse este episódio, e a ideia que eu já tinha de que toda a gente se mete com a minha trunfa, no dia a seguir ao pacha, ia com os meus compinchas, a pé, a um restaurante aqui ao lado para almoçarmos, passa um carro por nós, começa a apitar e a apontar para nós. no meio dos grunhidos que o animal soltou, percebi "cheveux". "pronto, já é comigo outra vez..."., pensei. e era! tanto que era, que o menino travou, meteu marcha-atrás até nós, e continuou o cinema "mas que cabelo é esse, meu? mas isso é que é cabelo?" tira o boné, em jeito de exibição da cabeça careca, e continua "olha pra mim, assim é que é! mas que raio de cabelo é esse?" e pronto, como não tínhamos amendoins para lhe dar, o rapaz seguiu à vida dele. é este tipo de situações que me faz pensar que ainda há MUITO trabalho a fazer na Argélia.

5 comentários:

  1. Olá, Paulo!
    Poderia postar fotos da zona da mesquita que você falou no post acima? Sou curiosa para conhecer um pouco mais do Islã na Argélia. Dizem que aí não são fundamentalistas - xiitas. É verdade? O que você tem visto a respeito?

    Grata,
    Sara
    Salvador - Bahia - Brasil

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  2. É isso Paulinho! Mostra-lhes que para se ser homem não é preciso ter cabelo comprido!!
    É difícil ser-se "normal" em países tão diferentes! Tem que se aprender a seguir em frente, olhar confiante e "não é nada comigo"!

    Beijoca*

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  3. sara. não tenho fotografias dessa zona. porque é que te interessa a argélia?

    renata. não te enganaste? não quererias dizer que para se ser homem não é preciso ter cabelo pequeno? =P na verdade, sem ser esta coisa do cabelo, ando aqui tranquilo. mas isto já me anda a chatear...lol.

    beijinho! =D*

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  4. Porque é possível que em julho próximo eu esteja aí, esticando uma viajem que farei à Roma.
    Pesquisando no google sobre este país, encontrei teu blog... Muita sorte encontrar informações sobre a Argélia em português e quase que em tempo real. Tenho acompanhado sempre o que você escreve.
    Obrigada!

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  5. ah bom. muito bem.
    obrigado por acompanhares o blog.
    espero que estejas a gostar.

    ora essa, não precisas de agradecer.

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