quarta-feira, 16 de junho de 2010

road trip - Setif

a viagem de todas as emoções!
éramos 5. alugámos um carro. na loja de aluguer de carros mesmo por baixo da nossa casa. dei a dica que morávamos por cima, etc e tal, "devem fazer um bom serviço", pensei. levaram-me a ver a viatura. muito sujinha! um cheiro a perfume barato que até metia dó. aparentemente em bom estado. o senhor deu um "clique" à chave, mostrou que os piscas estavam em ordem, as luzes também. até o rádio lia cd's mp3 e tinha entrada usb. um luxo! muitos "il ya pas de problème" depois, fechou o carro e deu-me a chave. não havia tempo para mais voltas, e o "contrato" já estava assinado. "merci bien, monsieur, et bon voyage!". obrigado, amigo, et au revoir!
depois do trabalho, metemo-nos à estrada.
o carro não estava 100% como o outro sacana tinha dito, mas "il y a pas de problème!". as estradas argelinas são como são, uma rebaldaria! manobras arriscadas; falta de tino; mania que a estrada é uma corrida gigante e que todos temos que entrar no ambiente racing da coisa; buracos; piso torto.
o nosso caminho apanhava um bocado de estrada nacional. o que é igual a grandes problemas, porque uma vez que ninguém respeita ninguém, as duas faixas transformam-se em 4, em 5, em 6, há malta que vai em contra-mão, só para poder abreviar o percurso um bocadinho mais...um verdadeiro teste à paciência e à resistência! para quem conduz, e para quem não conduz!
a paisagem é brutal, passámos por zonas de montanhas lindas, o problema é o trânsito. caótico!
depois de umas boas 5 horas de viagem, lá íamos nós "caminhando pelo mundo" tranquilamente. estávamos a passar por Setif, uma cidade onde nos tinham dito existir um restaurante chamado "Lisboa" (onde íamos tentar passar, na vinda), e íamos seguir para Djemila (onde há umas ruínas romanas, das maiores do mundo, dizem eles), para pernoitar por lá. mas, num posto de controlo da polícia, a direcção da viatura partiu-se (menos mal que íamos a 20km/h), e ficámos empanados!
era o polícia em árabo-francês muito mal falado a dizer que eu ia depressa, eu a dizer que não, que tinha um problema na direcção, ele a insistir na velocidade, eu a explicar que era a direcção, às tantas diz-me, "il ya pas de problème, pode seguir", "mas não podemos andar, monsieur, a direcção está partida!", mais meia hora a tentar explicar que não conseguíamos andar, até que perceberam. Setif é uma cidade de montanha, por assim dizer, e estar empanado numa zona fria pra burro não foi pêra doce. os polícias foram para lá de impecáveis! chamaram um reboque para nos levar o carro para um parque ali ao lado. coincidência feliz, o senhor dos reboques também era mecâncico. disse logo que no dia a seguir (apesar de ser Sexta-Feira, o equivalente ao nosso Domingo), ia passar de manhã para levar o carro para a oficina, e ver se podia resolver o problema. impecável!
no meio disto tudo ainda liguei ao animal que nos tinha alugado o carro, e ele, muito subtilmente, mandou-me às couves. "monsieur, eu estou em Argel, e você em Setif, não posso fazer nada.", "então mas não conhece aqui ninguém? não pode ligar a um reboque que venha de Argel buscar-nos? não pode fazer uma merdinha que seja?", "pois, monsieur...vocês estão a 300km, não dá", "então é assim que trabalha? agora fazemos o quê?", "peçam aí ajuda.", "é de noite, está tudo fechado, não conhecemos ninguém, pedimos ajuda a quem?", "olhe...leve o carro a uma oficina, e depois traga-me a factura e logo falamos". e é assim que se trabalha aqui...
alguém se apercebeu que precisávamos de um táxi, e disponibilizou-se a ligar ao primo, para nos vir buscar e levar a um hotel, para dormirmos uma noite tranquila. "obrigado monsieur, é muito simpático! olhe, você é aqui de Setif?", "sou", "fixe. disseram-nos que existe aí um restaurante chamado Lisboa. conhece-o?", "bien sur que sim!", "porreiro! é que nós somos portugueses, e já que nos aconteceu isto, olhe...queríamos ao menos conhecer o restaurante. é longe?", "ai são portugueses? o meu primo taxista que vem aí está casado com a filha do dono do Lisboa!", "ai sim? que grande coincidência!" e assim acabámos por ser recebidos pelos donos do Lisboa, que nos trataram para lá de bem!
no dia seguinte, fui com o mecânico cedinho para ir buscar a viatura ao parque, levá-la para a oficina e ver se tinha arranjo. grande família de mecânicos (era o pai, o filho e o outro filho), lá deviam ter as connections deles e encontraram uma loja de peças aberta. umas 2 horas depois o problema estava resolvido, e a viatura pronta a rolar. (o arranjo, com o reboque, transporte, mão-de-obra e peça, custou à volta de 50 euros.)
o filho dos senhores do Lisboa, que comunicava conosco tanto em português, como francês, como árabe, foi conosco ver as ruínas romanas de Djemila, que são qualquer coisa de brutal! diria que é um dos pontos mais positivos de andar a visitar a Argélia. poder ver estes sítios em estado quase virgem. sem a confusão dos sítios turísticos, sem o amontoado de turistas, sem o barulho e o caos.
voltámos a Argel imensamente agradecidos aos nossos amigos do Lisboa, que tão bem nos trataram! mais uma dose de estradas argelinas e 5 horas depois, parámos no porto de pesca de Tamenfoust para comer um gelado e apanhar um solinho na cara. chegámos a Argel com um pôr-do-sol brutal a dar-nos as boas-vindas! que viagem!
(depois desta viagem, as viagens têm sido feitas sempre de avião. mais rápido, mais cómodo, mais simples.eheh)




















































1 comentário:

  1. Na verdade o arranjo até nem ficou muito caro. Mas o importante foi consegui-lo tão depressa.
    Os portugueses estão mesmo em todo o lado.Gostei da decoração do restaurante .
    AS ruínas são mesmo espectaculares.
    POr momentos até tremi com aquela camioneta em direcção a vós. REalmente não há condução educada nesse país. Um perigo!
    DEpois de conduzirem num país como esse, com um trânsito que vos deixa os nervos em franja, podem dizer que são mesmo uns grandes condutores.
    lol lol
    mãe I9

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